Sobre o LAPPOT

No LAPPOT desenvolvem-se pesquisas que, além de considerar os problemas e limitações, buscam cultivar os aspectos positivos das organizações e dos seus trabalhadores. Os estudos realizados poderão contribuir para o desenvolvimento da Psicologia Positiva e para explorar as virtudes humanas, auxiliando para a prevenção e intervenção nos prejuízos causados no ambiente de trabalho. Aqui, também são realizadas atividades junto a outras instituições e à comunidade no intuito de divulgar essa ciência, promover bem-estar e fortalecer as qualidades e emoções humanas positivas.

Constituem elementos importantes na formação da identidade do Laboratório de Psicologia Positiva nas Organizações e no Trabalho, a visão, a missão e os valores.

Visão:
Tornar-se um Laboratório de referência no âmbito nacional e internacional, na área de conhecimento e no campo de atuação em Psicologia Positiva nas Organizações e no Trabalho. Ser reconhecido pela excelência em pesquisas e produção de conhecimento científico em Psicologia Positiva.

Missão:
Construir, disseminar e aplicar conhecimentos referentes a Psicologia Positiva nas Organizações e no Trabalho. Demonstrar para as organizações o potencial das virtudes humanas na construção de ambientes saudáveis e de alta competitividade.

Valores:
Foco na Felicidade;
Otimismo;
Gratidão;
Criatividade;
Engajamento;
Empatia;
Cooperação;
Proatividade;
Ética;
Transparência;
Lealdade.

Objetivos do Lappot

Os objetivos do LAPPOT foram construídos tendo como base a importância do laboratório para o departamento de Psicologia e o Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC, bem como a sua relevância social e científica para a formação dos alunos e pesquisadores, para a construção do conhecimento e para o desenvolvimento de práticas positivas para a comunidade em geral. Dessa forma constituem os objetivos do LAPPOT:
● Realizar pesquisas envolvendo Psicologia Positiva nas organizações e no trabalho;
● Discutir do ponto de vista teórico e prático fenômenos considerados relevantes à Psicologia Positiva no contexto da Psicologia das Organizações e do Trabalho;
● Estabelecer intercâmbio com laboratórios de mesmo escopo ou núcleos de pesquisa nacionais e internacionais;
● Disseminar o conhecimento da área, ampliando o número de publicações, por meio de livros e artigos e participações em eventos científicos nacionais e internacionais sobre Psicologia Positiva nas organizações e no trabalho;
● Promover eventos que divulguem e esclareçam as possibilidades da Psicologia Positiva nas organizações e no trabalho tanto no âmbito acadêmico como no profissional e em outros espaços de vida;
● Construir espaço de interação, aprendizagem, compartilhamento do conhecimento e pesquisa conjunta entre os mestrandos, doutorandos e graduandos em Psicologia da UFSC;
● Criar espaços para que as pessoas possam conhecer o laboratório e para que possamos conhecer outras visões;
● Realizar atividades de extensão e intervenção com alunos e em organizações do primeiro, segundo e terceiro setores.

Justificativa

Durante muitos anos, a Psicologia teve seus estudos e práticas direcionadas ao tratamento de psicopatologias por meio de intervenções que focavam os defeitos, limitações e problemas humanos em geral. Sob este espectro, as potencialidades e os aspectos saudáveis e positivos das pessoas e da sociedade foram muitas vezes negligenciadas (SELIGMAN, 2009).

Tais perspectivas em Psicologia, com foco nas limitações, foram criticadas por alguns psicólogos humanistas como Maslow (1954) e Rogers (1959), que na época argumentaram sobre a necessidade de transformar o foco científico dominante da Psicologia. O argumento por eles utilizado era que a Psicologia estava se restringindo apenas à metade da sua competência legítima, uma vez que revelava muito sobre as limitações do homem e pouco sobre suas potencialidades, virtudes e aspirações (SELIGMAN; CSIKSZENTMIHALYI, 2000).

Os autores por último referidos salientam que as considerações de Maslow e Rogers estão à frente da sua época. Aliado a isto, a falta de rigor metodológico (ausência de evidências empíricas) para sustentar suas descobertas, contribuiu sobremaneira, para que não “ecoassem” na comunidade científica, as suas considerações sobre “olhar de modo positivo” o potencial humano de se tornar aquilo que se deseja ser.

Ao concordarem com tal assertiva, Seligman e Csikszentmihalyi (2000), afirmam que a área de conhecimento pertinente a Psicologia Positiva não é nova, mas um diferente enfoque para realizar pesquisa e intervenção, ao privilegiar os aspectos sadios do ser humano. Para sustentar tal assertiva, o psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi, percebeu durante a II Guerra Mundial, a necessidade de uma Psicologia que pudesse explicar, por que mesmo em meio a grandes perdas, algumas pessoas mantiveram sua integridade e serenidade e outras não (SELIGMAN; CSIKSZENTMIHALYI, 2000).

As discussões e os pressupostos relacionados à Psicologia Positiva, ganharam maior impulso a partir de 1998 com o psicólogo Martin Seligman, na época Presidente da Associação Americana de Psicologia (APA). Ele salientou em discurso histórico, que a Psicologia deveria possibilitar muito mais do que apenas reparar, atuando de forma a identificar e fortalecer os potenciais individuais, grupais, organizacionais e comunitários. Nessa égide, a Psicologia Positiva seria “uma ciência reorientada que enfatiza a compreensão e a construção das qualidades mais positivas de um ser humano: coragem, trabalho ético, visão de futuro, habilidades interpessoais, capacidade para prazer e insight, e responsabilidade social” (SELIGMAN, 1999, p. 559).

Com base nos pressupostos da Psicologia Positiva e diante das demandas sociais e das constantes mudanças nos contextos de trabalho, no Brasil e no exterior, vem sendo construídos, paulatinamente, conhecimentos pertinentes à Psicologia Positiva das Organizações e do Trabalho (PPOT). Conforme argumenta Onça (2011), na PPOT, a preocupação reside em identificar, por meio da investigação e da discussão de questões relativas ao comportamento do trabalhador, quais variáveis impactam positivamente no enfrentamento das adversidades laborais cotidianas. Com o estudo realizado pela autora em sua dissertação de mestrado, é possível compreender a importância de estudar fenômenos que possam auxiliar no enfrentamento dessas adversidades, como os comportamentos resilientes no trabalho, de modo a tornar os fazeres laborais mais positivos e propositivos.

Atualmente, a Psicologia Positiva ganhou visibilidade em diversos países. Além dos Estados Unidos, há um aumento significativo de produção científica relacionada ao tema em inúmeras nacionalidades. Nas bases de dados Scielo, Pepsic e Lilacs, por exemplo, é possível identificar artigos publicados em diferentes revistas científicas em países como Brasil, Espanha, África do Sul, Chile, Colômbia, Portugal, Argentina, Costa Rica e México. As pesquisas científicas nacionais e estrangeiras publicadas pelos autores Paschoal e Torres (2010), Traldi e Demo (2012), Silva e Tolfo (2012), Jackson, Vijver e Ali (2012) Marsollier e Aparicio (2011) e Salanova, Llorens, Acosta e Torrente (2013) constituem um panorama inicial da Psicologia Positiva e ressaltam a necessidade de continuidade dos estudos científicos nesta área. Nesse breve mapeamento também se verificou que a partir do ano de 2010, o número de publicações sobre o tema se tornou mais frequente, o que demonstra sua atualidade no meio científico, fator que reforça a relevância científica e social da constituição do Laboratório de Psicologia Positiva nas Organizações e no Trabalho/LAPPOT.

Conforme já mencionado, por meio dos preceitos da Psicologia Positiva, se abriram espaços para a investigação empírica das virtudes, qualidades e potencialidades humanas, no qual são utilizados métodos científicos, tendo como foco as experiências subjetivas, as características individuais – forças pessoais e virtudes -, as instituições e as comunidades (SELIGMAN, 2003). Com base nisto, Seligman (2009) se preocupou em pesquisar as emoções positivas, as quais se dividem em três diferentes níveis: passado, presente e futuro, sendo possível cultivar cada uma de modo separado. As emoções positivas em relação ao passado abrangem a elevação dos níveis de satisfação, contentamento, orgulho e serenidade. Em relação ao futuro compreende a esperança, o otimismo, a fé e a confiança. Em relação ao presente as emoções se relacionam com prazeres e as gratificações (atividades que gostamos de fazer). Ao final e ao cabo, o propósito maior é a construção da felicidade, seja no trabalho ou em outros espaços de vida.

No que se refere ao conceito de felicidade no trabalho de modo específico, existem múltiplas definições, as quais repercutem na ausência de consenso na definição do termo. Para Diener (1984), o bem-estar subjetivo é utilizado como sinônimo de felicidade, enquanto que para Malvezzi (2015, p. 350) a felicidade “[…] é um bem superior aos outros, um estado de prazer distinto de outros estados positivos, como alegria, qualidade de vida, sensações positivas, satisfação ou bem-estar. […] é como um bem duradouro que dá sentido à ação humana, propicia sentimentos de alegria e direciona o movimento autocriador da vida”. Além disso, a abordagem dentro de distintos campos do conhecimento, como por exemplo a Filosofia, a Psicologia e a saúde, acabam ocasionando limitações epistemológicas que restringem para uma visão unificada (SANTOS, CEBALLOS, 2013).

Um outro conceito fundamental para o desenvolvimento científico da área é o de Capital Psicológico Positivo. Entende-se esse construto como sendo multidimensional, que engloba quatro qualidades fundamentais: otimismo, esperança, autoeficácia e resiliência (FARSEN; BUDDE, 2018). Para Antunes, Caetano e Cunha (2013) o Capital Psicológico tem o potencial de gerar valor para as organizações, impactando de forma positiva nas atitudes e comportamentos laborais. No entanto, os próprios idealizadores dos construtos formadores do Capital Psicológico, Luthans e colaboradores, reconhecem a necessidade de estudos para a inclusão de novos componentes. Os autores sinalizam que há muitos conceitos de comportamento organizacional positivo que possuem aspectos positivos em suas definições. Admitem que novos componentes podem ser integrados aos já definidos, como: a autenticidade; criatividade; mindfulness; inteligência moral; perdão; gratidão e espiritualidade (LUTHANS; YOUSSEF-MORGAN; AVOLIO, 2015). Além desses autores, outros também discorreram sobre o assunto com outras indicações, sinalizando a inclusão da emoção, vocação para o trabalho e a proatividade (CAMERON; SPREITZER, 2012).

No Brasil, ainda há poucos pesquisadores que estudam estas temáticas, o que torna importante citar a existência de poucos polos de estudo que relacionam a Psicologia Positiva com a Psicologia das Organizações e do Trabalho, como são os casos do Laboratório de Mensuração/Divisão de Psicologia Positiva, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, no qual o coordenador do presente Laboratório (LAPPOT) realizou estágio pós doutoral, e o grupo de pesquisa em Comportamento Organizacional Positivo, da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, em Niterói, no estado do Rio de Janeiro.
Na Espanha, se tem como referência o grupo WANT, focado em Prevenção psicossocial e Organizações Saudáveis, vinculado ao Departamento de Psicología Evolutiva, Educativa, Social y Metodología, na Universitat Jaume I, em Castellón de la Plana, Espanha, que atua sob a perspectiva da Psicologia Positiva e no qual uma das integrantes deste grupo realizou seu estágio doutoral.

Com a criação, o desenvolvimento (expansão) e a perpetuação do LAPPOT, pretende-se desenvolver pesquisas que, além de considerar os problemas e as limitações humanas no ambiente de trabalho, venham fazer descobertas, de modo a cultivar os aspectos positivos potenciais e expressos das organizações (gestores) e dos demais trabalhadores. Portanto, os estudos e pesquisas neste Laboratório, sob a perspectiva da Psicologia Positiva nas Organizações e no Trabalho poderão contribuir para o desenvolvimento da ciência positiva e para explorar novas fronteiras das virtudes humanas, auxiliando também para a prevenção e a intervenção nos prejuízos causados no ambiente de trabalho.

Referências

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